OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO
Por ALLAN KARDEC,
CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA (XIII)
Circunstância inaudita na história das doutrinas dá ao Espiritismo força excepcional e irresistível poder der ação. É que ele não é obra exclusiva de um único homem e surgiu simultaneamente em milhares de pontos diferentes do planeta que se tornaram focos de sua irradiação. Por isso a Doutrina Espírita não formou seitas em torno de si e a sua propagação deu-se, logo de início e dá-se agora ainda mais, com velocidade nunca alcançada por qualquer outra doutrina.
Os centros de difusão do Espiritismo, em meados do terceiro quartel do século dezenove apesar das distâncias que os separavam, confinados que estavam alguns em países longínquos, tiveram, já naquela época as ferramentas de auxílio constituídas pelas revistas e jornais, traço de união que lhe teria faltado na antigüidade e que de forma metódica, concisa e única transmitiu e transmite ao mundo idéias da doutrina.
As duas primeiras revelações da verdade da Lei Divina ou Natural só podiam resultar de um ensino direto; como os homens não estivessem ainda bastante adiantados a fim de concorrerem para a sua elaboração, tinham elas que ser impostas pela fé, sob a autoridade do Mestre.
Notam-se, porém, entre as duas, grande diferença, devida ao progresso das idéias e dos costumes, se bem que feitas ao mesmo povo, mas com dezoito séculos de intervalo. A Doutrina de Moisés, revelação da Justiça Divina é absoluta e despótica; não admite discussão e se impõe ao povo pela força. A de Jesusque é a revelação do Amor de Deus é essencialmente conselheira ; é livremente aceita e só se impõe pela persuasão, foi controvertida desde o tempo de seu fundador , que nunca desdenhava de discutir com seus adversários.
Advinda numa época de emancipação e madureza intelectual, em que a inteligência , já desenvolvida, não se resigna a representar papel passivo. em que o homem não aceita nada à cegas mas quer ver aonde o conduzem, que saber o porque e o como de todas as coisas a Terceira Revelação, que pelo Espiritismo dá ao homem a compreensão de toda a Verdade da Lei Divina ou Natural que fora sempre mencionada semeada por Jesus de forma velada, por não poder demonstrá-la abertamente, devido ao atraso intelectual e moral da humanidade de então, tinha que ser ao mesmo tempo o produto de um ensino e o fruto do trabalho, da pesquisa e do livre exame. Os Espíritos não ensinam senão justamente o que é mister para guiá-lo no caminho da verdade, mas abstêm-se de revelar o que o homem pode descobrir por si mesmo, deixando-lhe o cuidado de discutir, verificar e submeter tudo ao cadinho da razão, deixando mesmo, muitas vezes, que adquira experiência à sua custa.
Fornecem-lhe o princípio e os materiais; cabe-lhe aproveitá-los e pô-los em obra.
Tendo sido os elementos da revelação espírita ministrados simultaneamente em muitos pontos, a homens de todas as condições sociais e de diversos graus de instrução, é claro que as observações não podiam ser feitas em toda parte com o mesmo resultado; que as conseqüências a tirar, da dedução das leis que regem esta ordem de fenômenos, em suma, a conclusão sobre que haviam de firmar-se as idéias não podiam sair senão do conjunto da correlação dos fatos. É necessário, ainda notar que em parte alguma o ensino espírita foi dado integralmente; ele diz respeito a um grande número de observações, a assuntos tão diferentes, exigindo conhecimento e aptidões mediúnicas especiais, que impossível era acharem-se reunidas num mesmo ponto todas as condições necessárias. Tendo o ensino que ser coletivo e não individual os Espíritos dividiram o trabalho, disseminando os assuntos de estudo e observação, como nas fábricas, a confecção de cada parte de um mesmo objeto é repartida entre os diversos operários.
A revelação, assim, foi feita parcialmente em diversos lugares e por uma multidão de intermediários e é dessa maneira que prossegue ainda, pois nem tudo foi revelado. Cada centro encontra nos outros centros o complemento do que obtém, e foi o conjunto, a coordenação de todos os ensinos parciais que constituíram a doutrina espírita.
Denizart Castaldeli
Agosto / 2002
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