OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO
POR ALLAN KARDEC
CAPÍTULO I
CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA (III)
As religiões, infelizmente, têm sido sempre instrumentos de dominação.; o papel de profeta tem buscado ambições secundárias, ao invés de ser exercidos dentro dos limites do conhecimento da lei natural e de sua revelação.
Tem-se visto surgir uma multidão de pretensos reveladores e messias que valendo-se do prestígios desse nome exploram a credulidade em proveito de seu orgulho, da sua ganância ou até da sua preguiça, achando mais cômodo viver à custa dos iludidos. E a religião cristã não pôde evitar esses parasitas.
Não ousamos resolver a questão, se há revelações diretas de Deus aos homens, nem negativamente nem positivamente. Embora o fato não seja radicalmente impossível não temos dele nenhuma prova certa. Não há dúvida, porém. de que os espíritos mais próximos de Deus, pela perfeição alcançada, se imbuem de Seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos homens que se fazem reveladores, estes, segundo ao grau de saber a que chegaram e pela evolução moral e intelectual já alcançada em múltiplas existências, podem tirar de seus próprios conhecimentos as instruções que ministram ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome de Deus têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus.
As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela simples inspiração, pela audição, visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, do que há muitos exemplos, na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos. Por isso é rigorosamente exato dizer-se que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes, entendendo-se que médium é toda pessoa capaz de, de alguma forma perceber e transmitir o pensamento dos Espíritos. Entretanto não se pode, daí, concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos intermediários diretos da divindade ou dos seus mensageiros.
Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se, hoje, que nem todos os Espíritos são prefeitos e que existem muitos que se apresentam sob falsas aparências, o que levou S. João a dizer: "Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus". (Epíst. 1a. Cap.IV, v. 4 )
Pode, pois, haver revelações sérias e verdadeiras como as há apócrifas, isto é, com nomes falsos e mentirosas.
O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de Deus.
A lei do Decálogo, por exemplo tem todos os caracteres de sua origem, enquanto que as outras leis mosaicas, fundamentalmente transitórias, muitas vezes contraditórias coma a Lei do Sinai, são obra pessoal e política do legislador hebreu. Com a evolução e desenvolvimento da Humanidade abrandaram-se os costumes do povo e essa leis caíram em desuso, ao passo que o Decálogo permanece de pé, sempre, como farol da Humanidade. O Cristo fez dele a base do seu edifício, abolindo outras leis. Se estas fossem obras de Deus, seriam conservadas intactas.
O Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram a face do mundo e nisso está a prova de sua missão divina. Uma obra puramente humana careceria de tal poder.
Importante revelação se opera na época atual e mostra a possibilidade de nos comunicarmos com os seres do mundo espiritual. Não é novo, sem dúvida, esse conhecimento; mas, ficara até aos nossos dias, de certo modo, como letra morta, isto é, sem proveito para a humanidade. Esse conhecimento permanecera abafado pela superstição e pela ignorância das leis que regem as relações com mundo espiritual. Com o desenvolvimento da inteligência humana pela ampliação do conhecimento científico, à nossa época cabe o papel de desembaraçá-lo dos acessórios ridículos, compreender-lhe o alcance e fazer surgir a luz destinada a clarear o caminho do futuro.
O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem suspeitarmos, assim com as leis que regem suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação na acepção científica da palavra.
Denizart Castaldeli
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