– Não há de que se orgulhar num ato como esse!
Tendo em vista alguns questionamentos, volto ao assunto, procurando esclarecer nossa postura.
Tenho certeza de que fosse possível Jesus Cristo estar presente ao evento intitulado Malhação de Judas, observando seu próprio apóstolo ser injuriado e maltratado dessa maneira, lamentaria o acontecimento. De gosto duvidoso, só faz estimular nos presentes, alegria histérica e instintos primitivos, ligados possivelmente ao estado selvagem que já vivemos em eras remotas.
Esta cidade, com méritos, se orgulha de um passado pleno de tradições históricas e religiosas.
Com que moral criticamos os que se locupletam na corrupção e na mentira se, por outro lado, aplaudimos eventos que prestigiam a violência assemelhando-nos aos pagãos que se excitavam frente as feras que devoravam os cristãos nos circos romanos? Sem perceber, e é aí que está o perigo, voltamos ao tempo de Nero, aplaudindo uma fantasia inebriante que nos tira o precioso dom de pensar, facultado por Deus.
Não é essa a tradição (?) que devemos explorar para trazer turistas até aqui. Que se acomodem em volta de uma mesa, em lugar adequado, as pessoas interessadas e lideranças locais, e, de modo inteligente e correto estudem o que fazer para que esta gloriosa cidade cada vez mais e melhor atraia pessoas que venham para cá sim, mas para aqui encontrar coisas bonitas e dignas.
Construir uma tradição em cima de um personagem real, este é o equívoco. Judas foi compreendido por Jesus, que sabia de tudo muito antes dos fatos acontecerem, justamente por ser o mais lúcido espírito enviado por Deus á Terra, e, cuja história completa, está longe de ser plenamente conhecida.
Sempre manifestamos a maior alegria pelas tradições legítimas e puras, nascidas da inocência e simplicidade do generoso povo brasileiro. Conheço muitas delas em diversas regiões de nosso extenso país, revestidas de músicas, danças e alegria. Tudo isso é muito lindo. Não fere a ninguém. Folclore é a mesma coisa. São vários, criados por estes “Brasis” afora, todos frutos do imaginário popular. O que se vê aqui é outra coisa – é querer formalizar a todo custo uma tradição embasada na intolerância, no desamor e até na violência, e mais, contra um ser real, que naturalmente recebe tudo isso, e, o que é pior, a partir desta cidade de tantas e gloriosas recordações ligadas á Religião e á História de nossa pátria. Chega-se ao cúmulo de dizer-se, e com orgulho, que agora já estamos no livro “Guines” com um recorde de malhações em cima de uma figura da Cristandade, que, não é folclórica, nem imaginária, pois existe. Mais um recorde para nossa galeria. Mas que tipo de recorde, valha-me Deus!?
Pergunto: duvida alguém que Judas existe? Afinal admitimos ou não que a vida continua após a morte? Se a resposta é sim, como deve ser se nos dizemos cristãos, então sabemos que o espírito de Judas está vivo. Se está vivo ele deve receber todas essas vibrações humanas. No entanto, e isto está na história escrita, o Cristo vem sendo vendido a troco e a rodo, por muito mais e também por muito menos que trinta míseras moedas. Em seu nome os mais torpes e sanguinários crimes e mortes da humanidade foram cometidos. Por tudo isso Ele passou e soube compreender e perdoar. Por que não compreenderia e perdoaria Judas, se até a Pedro, que o negou por três vezes na hora do testemunho, compreendeu e perdoou. Alias a não ser algumas mulheres e seu discípulo João, todos o abandonaram.
Vamos dizer então que todos foram traidores? Unindo razão e sentimento vamos pensar e discernir!
Sei bem que o homem evolui lentamente segundo escala evolutiva do espírito humano. O Espiritismo por sinal tem estudos muito interessantes a esse respeito. Mas a experiência da história deve-nos ensinar a não repetir erros clamorosos do passado. Uma semente má que se desenvolve se não for arrancada pela raiz, pode transformar-se em árvore enorme que depois é muito mais difícil de ser arrancada. Isso está no Evangelho. Não há motivo de orgulho na Malhação. Vamos pensar melhor?
Mas acredite, aqueles aplausos que acontecem em cada Malhação de Judas, revive espetáculos dantescos da História, como aqueles do ímpio imperador dos romanos que aplaudia, com a turba desvairada, os cristãos devorados pelas feras ou os gladiadores que se matavam em busca do sucesso.
E é a isso que pretendemos chamar de Tradição?
Ciro Francisco Amantéa
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