BEM E FELICIDADE *

*Danilo Carvalho Villela

 Doutrina Espírita esclarece que os espíritos são criados “simples e ignorantes”, isto é, não possuem conhecimentos nem bagagem pessoal (hábitos, preferências, habilidades) que os distinga uns dos outros, embora sejam, já nessa ocasião, individualidades únicas, singulares.

Por outro lado, a diferenciação que se manifestará ao longo da trajetória evolutiva não implica em qualquer favorecimento concedido a uns em detrimento de outros: somos todos rigorosamente iguais em termos de aptidões e oportunidades, aptidões que deverão ser desenvolvidas no aproveitamento das oportunidades que se multiplicarão e graduarão conforme nossas possibilidades de aproveitá-las. A meta é a perfeição relativa a que todos chegam, também diferentes, nessa ocasião, com traços únicos, mas com igual condição de não mais enganar-se, de agir sempre de acordo com as Leis Divinas. É o fim da possibilidade de cometerem erros, embora prossiga a evolução, que é infinita.

Dentre as características comuns, trazidas desde a origem, existe em todos a aspiração da felicidade, estado de satisfação íntima que não se define em termos de padrões exteriores, mas que todos procuramos alcançar e manter. Como é compreensível, de início, é possível a ocorrência de equívocos nessa busca, acreditando-se poder consegui-la por meio de vantagens imediatas no campo material – o que nem sempre é verdadeiro – e por vezes, ainda, com prejuízo para terceiros – que é sempre falso, ilusório – como se evidencia posteriormente, guardando-se, contudo, os benefícios da educação adquirida pela experiência.

O predomínio da ilusão, os crimes e desvios de todo o porte, a falta de exemplificação dos dirigentes religiosos e, sobretudo – ante a maturidade intelectual já atingida por muitos, – a falta de uma visão coerente da vida, leva um expressivo número de pessoas a negarem a existência do Criador por não identificarem direção nem propósito na vida, que lhes parece absurda, sem sentido. Para estes, nossa consciência seria apenas o efeito do funcionamento do cérebro durante os breves anos que passamos na Terra, um curto período entre duas eternidades, a que antecede o berço e a que se segue ao túmulo.

O Espiritismo, com base na observação e no emprego da razão, nos oferece um panorama coerente e grandioso da vida, em que se evidenciam a sabedoria, o amor e o poder divinos, atuando permanentemente em nosso benefício.

O bem é, assim, uma questão de conformidade: “o bem é tudo o que é conforme à Lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário”, dispondo todos de inteligência, vontade e liberdade para escolher e agir.

A religião ensina e a experiência demonstra que somente o bem proporciona felicidade. Esta é  uma verdade absoluta, embora em nosso plano de conflitos e contrastes nem sempre o ato bom – que produz, desde logo, paz íntima – se faça imediatamente acompanhado pelo equilíbrio dos fatores externos – que mais tarde também se estabelecerá –, que prosseguem tumultuados e até hostis. De qualquer forma, através de orientação e experimentação incessantes e sob o amparo da Bondade Divina aprendemos a magna lição do amor pelo qual o nosso bem se associa e confunde com o bem de todos, quando atingimos a consciência de nossa filiação divina como irmãos e responsáveis pela felicidade de todos.

“O Livro dos Espíritos” (questões 629 e 630).

 

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Sábado, 19/7/2008 – no 2103