Karina Lopes
A palavra fé não pertence ao vocabulário usual da nossa ciência; remete mais, obviamente, a um vocabulário religioso, e é empregada por adeptos, pregadores, teólogos. A fé se pronuncia ativamente sobre um sentido da vida, trazendo significados sobre o que acontece conosco e com o mundo. Não cabe à psicologia manifestar-se sobre tal coisa. Talvez seja por isso que esse termo é substituído por outros mais gerais, e sem conotação religiosa, como “motivação” ou “valor”.
Se a psicologia não se pronuncia sobre o conteúdo de uma fé, é certo que essas atitudes são experiências vividas pelas pessoas.
A psicologia pode então explorar essas vivências e, através delas, referir a fé como aquilo que realmente anima a vida de uma pessoa ou lhe dá sentido; a fé seria, então, a ligação com o esperado, a determinação e a vivência de opções que mobilizam o ser humano. Pode-se definir a fé como uma determinada estrutura de sentido e de valores que cada um constrói para dar significado à sua existência; é o significado de que cada um precisa para viver.
Isso não quer dizer que essa fé seja religiosa; ela pode se tornar religiosa em função de sua intensidade e envolvimento.
A fé se torna “religiosa” quando se crê totalmente, mesmo não havendo nenhuma referência a uma divindade; é uma “entrega total” àquilo em que se acredita.
O uso popular do termo quando se diz “sigo religiosamente meu horário” ou “sou um torcedor religioso” mostra essa dimensão de totalidade, ou seja, existe uma relação entre a fé simplesmente humana e a propriamente religiosa, onde esta faz com que possamos dizer que ela é um fenômeno intrinsecamente humano. Sempre temos uma fé, mesmo que não seja religiosa. O ser humano precisa de fé; isso é inerente à sua condição. A fé é o sentido de vida, que começa individualmente, e que se expande para·grupos, sociedades e nações.
Sendo assim, é evidente que a fé é conceito necessário para se dar conta do humano, e se a psicologia não chegar aí, estará distante de seu objeto, que é o ser humano.
Do boletim “Vanguarda”, publicação da Entidade Espírita Cáritas (Rua Coronel Fernão Guedes de Souza, 225 – Jardim Armênia – CEP 08780-640 Mogi das Cruzes, SP).
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