PARTE PRIMEIRA - Das causas primárias
CAPÍTULO I — De Deus
Itens:
Deus e o infinito
Provas da existência de Deus
Atributos da Divindade
P: “1. Que é Deus?”
Assim perguntando aos Espíritos iluminados, Kardec iniciou o assentamento da pedra literária angular do Espiritismo — “O Livro dos Espíritos”.
Não registrou “quem”, mas sim “que”...
Por si só este subliminar detalhe já traz à nossa reflexão o cuidado com o qual a tarefa seria executada! Sim, porque o “quem” individualiza o sujeito da oração, ao passo que o “que” abre um leque infinito de tentativas de possibilidades de responder à questão. (“Quem” pode ser pronome interativo ou relativo; mas o “que” pode ser: pronome interrogativo, pronome relativo, advérbio, conjunção subordinativa, conjunção coordenativa, partícula expletiva, substantivo masculino e finalmente, interjeição).
Responderam-lhe os próceres celestiais:
—“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
(Segundo nota da FEB – Fed.Espírita Brasileira – há traduções, além da sua, grafando “causa primeira”. A questão, esclarece, é de semântica).
Daí em diante, o capítulo engloba mais 15 questões e respostas.
Comentar sobre Deus é ingressar num labirinto. Não obstante, só mesmo ouvindo mais reflexões daqueles Amigos do Plano Maior, e pobremente de nossa parte, falando mais pelo sentimento do que pela razão, eis o que podemos inferir sobre Deus:
- é eterno (sem começo ou fim)
- é infinito (sem possibilidades de ser dimensionado)
- é imutável (a estabilidade do Universo o prova)
- é imaterial (sua natureza difere de toda a matéria conhecida)
- é único (se outros similares houvesse, a unidade de decisões e a unidade de poder estariam sujeitas a diferente ordenação universal)
- é onipotente (tudo pode: seu poder é absoluto porque é único; caso não dispusesse de soberano poder, algo poderia haver tão ou mais poderoso)
- é onipresente (presente em todos os lugares, simultaneamente)
- é onisciente (tudo sabe, tudo conhece: presente, passado, futuro)
- é soberanamente justo e bom (leis divinas, naturais, irretocáveis no micro e no macro o atestam)
- é perfeito (perfeição, aqui, no nível inigualável, o que, por si só caracteriza pureza inatingível).
As reflexões acima são algumas das possíveis, em se considerando o conhecimento humano e sua capacidade de o expressar.
Todos os pensadores, de todos os tempos, algo disseram sobre Deus.
Vamos registrar pequenas lembranças nossas:
- Moisés: No decálogo, já no primeiro mandamento são expostas notas sobre Deus; no segundo, há séria advertência para que Seu nome jamais fosse pronunciado em vão.
- o Mestre Jesus — o maior de todos os pensadores, o Espírito mais puro jamais encarnado, referindo-se a Deus disse:
a. “Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome!” (Mateus, 6:9);
NOTA: Allan Kardec, considerando a concisão da “Oração Dominical” elaborada pelo próprio Jesus, houve por bem acrescentar comentários após cada frase (vide “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap XXVIII). Assim, à primeira frase do “Pai Nosso” (acima), adjuntou as reflexões:
"Cremos em vós, Senhor, porque tudo revela o vosso poder e a vossa bondade! A harmonia do Universo testemunha uma sabedoria, uma prudência e uma previdência que suplantam todas as faculdades humanas; o nome de um ser soberanamente grande e sábio está inscrito em todas as obras da Criação, desde o ramo de erva e no menor inseto, até os astros que se movem no espaço; por toda parte vemos a prova de uma solicitude paternal; por isso, cego é aquele que não vos reconhece em vossas obras, orgulhoso aquele que não vos glorifica e ingrato aquele que não vos rende ações de graça."
b. “Bom, só existe um” (Mateus, 19:17).
c. “A Deus todas as coisas são possíveis” (Mateus, 19:26).
- o Apóstolo João: Deus é amor! (1 João, 4:8).
- Santo Agostinho: teria dito que, no íntimo, sentia e sabia como era Deus, contudo, se alguém pedisse para dizê-lo, aí já não saberia;
- Leonardo Da Vinci: perguntado sobre o que pensava sobre Deus, respondeu que só podia compará-Lo assim: o Sol é a sombra d’Ele;
- Um sábio estava na praia e um discípulo perguntou-lhe como era Deus, obtendo como resposta: “é mais fácil colocar toda a água do mar num dedal do que descrever como é Deus...”
- Sir Isaac Newton, toda vez que pronunciava o nome de Deus, antes, tirava o chapéu, em sinal de profundo respeito;
Ainda sobre Newton, dizem ... e talvez não passe de folclore, que estando certa vez sob a “famosa macieira” (aquela da qual certa vez, ao ver se desprender uma maçã, argutamente enunciou a “Lei da Gravidade”), perguntou a um menino:
— "Você sabe quem fez esta maçã?"
— "Foi Deus!!!", respondeu o menino.
Newton, então, propôs:
— Se você me provar que Deus existe eu lhe dou a maçã de presente...
— E se o senhor me provar que Deus não existe, eu subo nessa macieira e apanho todas as maçãs para lhe dar... (pano rápido).
- o Espírito Emmanuel, que para nós é um dos mais consagrados filósofos da Espiritualidade a serviço do Espiritismo, registrou: “O servidor que confia na Lei da Vida reconhece que todos os patrimônios e glórias do Universo pertencem a Deus” (mensagem n° 26, in “Fonte Viva”, 28ª Ed., 2002, FEB, Brasília/DF).
- Eurípedes Barsanulfo: deixou-nos a prece denominada “Deus”, um poema de raríssima suavidade espiritual, do qual vamos transcrever apenas dois parágrafos:
"O Universo é obra inteligentíssima; obra que transcende a mais genial inteligência humana; e como todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, é forçoso inferir que a do Universo é superior a toda inteligência; é a inteligência das inteligências; a Causa das causas; a Lei das leis; o Princípio dos princípios; a Razão das razões; a Consciência das consciências; é DEUS! Nome mil vezes Santo que Newton jamais pronunciava sem se descobrir. (...)
DEUS! Reconheço-vos eu, Senhor! com Jesus, quando ora: ‘PAI NOSSO QUE ESTAIS NOS CÉUS’... Ou com os anjos quando cantam: ‘GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS’... Aleluia!"
Panteísmo
Doutrina ou crença segundo a qual tudo o que existe é identificado com Deus; e ainda uma forma de sensibilidade que vê Deus manifesto em toda a natureza: Deus seria a soma de tudo o que existe.
Como vemos, conceituação que de forma embora vaga, algo se aproxima da resposta à primeira questão de “O Livro dos Espíritos”, acima comentada.
Mas há um intransponível ponto de desencontro entre essa doutrina (o Panteísmo) e o Espiritismo: ao configurar Deus como um ser material e possuidor de suprema inteligência, estabelece um paralelo entre o todo (o macro: ele, Deus) e as partículas que o formam (o micro: o homem, por exemplo, uma delas).
Esse paralelismo não resiste à menor análise, quando sabemos que a matéria se acha em contínua transformação e o homem, em infinita evolução moral...
— Ora: como podemos imaginar um deus alterável (quanto à matéria) e em permanente escala evolutiva (no Espírito)?
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