WLADISNEY LOPES
"Porém, nunca o repetirei demasiado, não aceiteis coisa alguma às cegas".
Erasto - LM cap. V item 98.
É muito comum encontrarmos afirmações do tipo: Espírita Kardecista, Kardecismo.
Isto cada vez mais, vai se tornando natural no meio Espírita em palestras, jornais e revistas.
Porém o que me chamou a atenção foi o artigo da jornalista Renata Saraiva no Jornal Valor de 15 de dezembro de 2000, no seu artigo "Loucura e espiritismo no Brasil" a chamada é a seguinte: "Historiadora estuda como a psiquiatria tratou o Kardecismo no início do século".
O artigo trata da tese de doutorado da historiadora da Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Angélica Silva de Almeida "A Loucura Espírita no Brasil". Percebam que o termo Kardecismo foi utilizado como sinônimo de Espiritismo, demonstrando que a confusão iniciada no meio espírita começa a atingir também a mídia. Isto é tudo que alguns inimigos da Doutrina Espírita querem, pois ela deixaria de ser a revelação dada por uma plêiade de espíritos liderados pelo Espírito da Verdade para ficar resumida em uma única pessoa. Antigamente falava-se em espiritismo de mesa branca, espírita de mesa branca e a mesa branca foi substituída por Kardecismo ou Kardecista, alguns centros chegam a incluir em sua denominação Centro Espírita Kardecista.
Entre os espíritas ainda predomina o aprendizado verbal ouve-se alguém dizer acha-se bonito e vai se repetindo, sem se parar para refletir se isto condiz com o que aprendemos. Apenas como exemplo já perceberam como o termo karma foi incorporado ao linguajar de alguns "espíritas". O que mais ouvimos é que a leitura do Livro dos Espíritos é muito difícil por isto esta verdadeira enxurrada de romances, muitos deles com erros graves em relação à Doutrina e são vendidos dentro da própria casa espírita, basta se dizer que o livro é psicografado para se tornar uma obra espírita, mas esta é uma história que fica para uma outra vez.
Para explicar porque não sou espírita Kardecista, chamo em minha defesa o Sr. Allan Kardec, que sem dúvida era o bom senso encarnado e que já imaginando as distorções que poderiam ocorrer fez questão de deixar bem claro logo no primeiro parágrafo da introdução do Livro dos Espíritos o seguinte: "Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim exige a clareza da linguagem para evitar confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras” e mais a frente estabelece "Os adeptos do Espiritismo serão, Espíritas ou se quiserem Espiritistas”. (grifo nosso).
Recorro agora a equipe de espíritos responsáveis pelo Livro dos Espíritos, vamos aos prolegômenos deste livro, que nos dizem: "Este livro é o repositório de seus ensinos, foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. A ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem obra de A. Kardec que recebeu a missão de os publicar".
Portanto a simples leitura da Introdução e dos Prolegômenos do Livro dos Espíritos já bastaria para que não criássemos termos novos para definir o que já está definido e muito bem definido. Seria interessante ainda aos que se dizem espíritas Kardecista lerem o Capitulo I de A Gênese que trata do Caráter da Revelação Espírita, em especial o item 45 que aqui reproduzimos:
“A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum (grifo nosso)”.
As duas primeiras foram individuais, a terceira coletiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ela é coletiva no sentido de não ser feita ou dada como privilégio de pessoa alguma; ninguém, por conseqüência, pode inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais baixa até a mais alta da escala, conforme esta predição registrada pelo autor dos Atos dos Apóstolos: "Nos últimos tempos, disse o Senhor, derramarei o meu espírito sobre toda a carne; os vossos filhos e filhas profetizarão, os mancebos terão visões, e os velhos, sonhos”.(Atos, cap. II vv. 17,18.). "Ela não proveio de nenhum culto especial, a fim de servir um dia, a todos, de ponto de ligação”.
Com base neste item Kardec faz uma nota explicando o seu papel "neste grande movimento de idéias". Neste mesmo livro no Cap. XVII - Predições do Evangelho item 40 podemos ler: "Não é uma doutrina individual, uma concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É o produto do ensino coletivo dos espíritos, ao qual preside o Espírito de Verdade” e no rodapé da pagina joga uma pá de cal sobre este assunto, escrevendo o seguinte:
"Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da individualidade fundadora: o mosaismo, o cristianismo, o maometismo, o budismo, o cartesianismo, o furierismo, san-sinomismo, etc. A palavra Espiritismo ao contrário, não lembra nenhuma personalidade, ela encerra uma idéia geral, que indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina”.
Portanto baseado em tudo que aprendi até agora, sou Espírita e ponto final.
Fonte: (Publicado no Boletim GEAE Número 429 de 5 de fevereiro de 2002)
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